quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Arte Livre: o Muay Thai

Um dos principais golpes do Muay Thai é o chute,
que é desferido com a canela ao invés do pé

Muay Thai é uma arte marcial da Tailândia existente há mais de dois mil anos. O "boxe tailandês", como também é conhecido, faz parte da cultura tailandesa e é tão importante quanto o futebol para os brasileiros. A “Arte livre” (tradução de Muay Thai) chegou ao Brasil em 1979, introduzido pelo Grão-Mestre Nélio Naja.

Sua origem é confundida com a do povo Tailandês e remete ao processo migratório do povo da província de Yunnam, na China Central, para o território onde hoje é a Tailândia. Segundo registros, nesse trajeto a população sofria ataques de bandidos e animais. Para se protegerem, eles criaram um método de luta, chamado na época, de “Chupasart”. O problema é que nos confrontos eram utilizadas armas, o que acabava em ferimentos e mortes. Assim, ao longo do tempo, o método foi modificado e as armas foram deixadas de lado, começando, assim, uma base do Muay Thai que vemos hoje em dia.

Segundo o mestre de Muay Thai Renan Carlos da Silva Rossi, 28, os principais ensinamentos da luta são o respeito ao próximo, ao solo sagrado do centro de treinamento e honrar seu mestre. “Aprendemos também a ter controle da mente, principalmente diante de dores e sofrimentos, e nunca desistir”, diz Renan.

Luiza Miguel de Sales, 14, treina Muay Thai em Santo André há oito meses e considera a disciplina como o ponto mais positivo da arte marcial. "A disciplina é a base de tudo. É uma das coisas que o Muay Thai, assim como as outras artes marciais, trabalha bastante". 

A CBMT (Confederação Brasileira de Muay Thai) adotou o “Prajied” como forma de graduação. Diferentemente da Tailândia, onde o Prajied é usado como uma espécie de amuleto, no Brasil usa-se para diferenciar os praticantes, do iniciante até o Grão Mestre. O praticante começa na cor branca, passando por várias outras até chegar na azul escura, quando vira instrutor. Para ser professor, mestre ou grão mestre, o maior grau, precisa ainda conseguir as cores preta, preta e branca e preta branca e vermelha, respectivamente. Esse processo demora alguns anos e depende também da formação de outras pessoas.

“Na Tailândia, o Muay Thai é levado como filosofia de vida. Geralmente 99% daqueles que treinam são para virarem lutadores, então eles levam muito a sério e respeitam, pois para eles é uma tradição”, diz Renan. Segundo ele, aqui no Brasil, a modalidade é mais utilizada para perda de peso e condicionamento físico.

Antes das lutas, há um ritual de reverência ao treinador/professor, à academia, familiares e a Deus, o Wai Kru Ram Muay, que significa o ato de juntar as mãos como forma de respeito ao professor por meio de uma antiga dança tailandesa. Na reverência, o lutador utiliza o “Mongkon”, uma “coroa” colocada na cabeça que o protege antes dos combates e é retirada após o ritual. Cada um possui uma coreografia própria, com movimentos criados por ele que mostram o estilo do atleta. Além disso, é tocada uma música tradicional, normalmente com instrumentos como o tambor duplo, a flauta javanesa e o Ching, uma espécie de chimbal (tipo um prato de bateria).

Durante o ritual, o lutador percorre o ringue tocando sua mão direita nas cordas de toda área de combate, “selando” o local da luta. Ao chegar em todos os quatro cantos, faz-se uma parada e realiza-se uma oração. Depois, se dirige ao centro do ringue, ajoelha e curva-se por três vezes demonstrando respeito ao seu Deus e ao seu adversário.

Mongkon, amuleto utilizado pelos lutadores antes das lutas

As lutas de Muay Thai são realizadas em rounds de dois ou três minutos, dependendo do evento e lugar, valendo soco, chute, joelhada e raramente cotovelada. Em evento entre graduações pretas, a luta é realizada sem proteção, ou seja, sem capacete, caneleira ou cotoveleira, apenas luvas.

De acordo com Renan, não existem limitações para quem quer praticar Muay Thai. “Há uma variação. Não é indicado uma pessoa sedentária praticar no meio de uma equipe de competidores, pois os treinos são de alto rendimento e deixarão de ser saudáveis”. O Mestre ainda completa que, desde que o professor seja bem capacitado e tenha noção dos limites de cada aluno, o Muay Thai é indicado para todos. “Ele traz um bem enorme para a saúde”.

Arthur Pellegrini Guereschi, 19, de Santo André, luta Muay Thai há aproximadamente oito meses e conta que já está adaptado aos treinos e que sente falta quando não consegue treinar. “O meu corpo sente, fisicamente falando, eu percebo que a falta de atividade vai me ‘enferrujando’ aos poucos. Mas existe também uma falta psicológica”.