terça-feira, 7 de julho de 2015

Por que o futebol brasileiro sofre com a escassez de camisas 10?


O antigo "país do futebol", que já teve Pelé, Ademir da Guia, Zico, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, entre outros, está sofrendo com a falta do "camisa 10", ou seja, o armador, o jogador que organiza e pensa o jogo para a sua equipe, dando o último passe para a conclusão ao gol.

O meia-armador, conhecido atualmente como camisa 10, está cada vez mais difícil de ser encontrado nos clubes brasileiros, principalmente nas categorias de base, levando os times à buscarem esses jogadores em outros mercados, principalmente nos países sul-americanos, como a Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, entre outros, tendo em vista que, no Brasil, grande parte dos meias armadores são estrangeiros, como por exemplo o D'Alessandro (Argentino) no Internacional, Valdívia (Chileno) no Palmeiras, De Arrascaeta (Uruguaio) no Cruzeiro, Dátolo (Argentino) no Atlético-MG e, no ano passado, Conca (Argentino) no Fluminense.

Com a necessidade de um camisa 10, alguns clubes brasileiros foram atrás de estrangeiros por não encontrarem a solução "em casa". O Flamengo tentou contratar o argentino Walter Montillo que está no Shandong Luneng (CHI), mas esbarrou, entre outros fatores, no alto salário do jogador. O Cruzeiro foi atrás do chileno Valdívia do Palmeiras, mas encontrou resistência pelo lado do clube e então trouxe o uruguaio De Arrascaeta que estava no Defensor Sporting (URU).

A principal explicação para a falta do "criador de jogadas" nos clubes é a modernização do futebol, pois, antigamente, cada clube tinha o seu armador clássico, aquele que não corria o campo todo mas sempre que a bola chegava nele, ele levantava a cabeça e procurava um companheiro desmarcado para lançá-lo em situação de gol. Hoje, o futebol não permite que o jogador desempenhe uma única função, ou seja, o atacante não pode ficar parado na área esperando a bola para fazer o gol, o meio-armador não pode ficar esperando a bola chegar nele para ele construir uma situação de gol, ambos têm funções táticas dentro de campo, tanto defensivas quanto ofensivas, e com isso os meias clássicos vão desaparecendo e jogadores que desempenham diversas funções, que têm um papel tático fundamental para a equipe, entre outras palavras, jogadores mais completos, vão surgindo.

Várias equipes do mundo têm seus atacantes marcando a saída de bola adversária, ou seja, cumprindo um papel defensivo além do ofensivo, e da mesma forma que a marcação não fica por conta somente dos zagueiros e volantes, a armação e criação de jogadas, não passa por um único jogador.

Se um time não possui um camisa 10, não quer dizer que haverá falta de gols, pois atacantes pelas pontas, laterais e até mesmo os próprios centroavantes podem dar assistências, e exemplos não faltam. Neymar, que joga de ponta, deu mais assistências do que fez gols em sua primeira temporada pelo Barcelona. Mesmo o Fluminense de 2012 tendo Thiago Neves e Wagner, jogadores de armação, Wellington Nem, que é um jogador rápido e de lado de campo, foi o principal responsável por criar chances para Fred, pois o meia atravessava o campo com a bola e cruzava para o atacante, na maioria das vezes, marcar o gol.

A nova mentalidade do futebol brasileiro vem desde a base, pois se o jogador é habilidoso, sabe desempenhar muito bem sua função, mas seu porte físico não é muito avantajado, desempenha apenas uma única função em campo e não marca bem, o jogador é, na maioria dos casos, descartado pelos olheiros, e com isso o futebol está ficando cada vez mais "feio" de se ver por não haver mais jogadores habilidosos, técnicos, que jogam bonito e que fazem a diferença como antigamente, pois a prioridade hoje em dia é a força e a correria ao invés da técnica e das jogadas bem trabalhadas pelo coletivo.

O Brasil já teve Zico, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, entre outros, como armadores da seleção, e hoje vem encontrando dificuldades para revelar grandes camisas 10, tendo como os últimos meias clássicos revelados, Paulo Henrique Ganso, do São Paulo, e Lucas Lima, do Santos. Enquanto essa modernização do futebol for aceita sem contestação, os jogos continuarão sendo "feios" e, daqui uns anos, não existirão mais posições e funções fixas, e com isso o meia clássico ou o camisa 10, deixará de existir, pois passará a ser apenas mais um jogador de meio-campo. 

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